quinta-feira, 23 de julho de 2009

A DÚVIDA

Assisti ontem ao filme “ A Dúvida” (Doubt) sob a direção de Jhon Patrick Shanley, com Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e Viola Davis e não me restou dúvida alguma de que o filme não é, se quer, bom.
Shanley, estava 18 anos sem dirigir, venceu o Pulitzer, em 2005, pela peça "Doubt" e a adaptou para o cinema. Na história usa elementos de sua infância para recriar o ambiente em uma escola católica do Bronx, NY, em 1964.
Atores de peso, contudo, o apelo para velha história de padres que comem criancinhas foi fraco. O pior é que até o fim do filme você não tem certeza se o padre pega ou não pega o garotinho. Outra lástima é a mãe (Viola Davis) do coroinha, o espectador não entende também, mas parece que ela quer mais é que o “ato” se consuma, e vive dizendo que é só por um determinado tempo e que ninguém deveria se preocupar com isso. Acredito que essa seja a grande dúvida de “A Dúvida”: “Até onde os pais são coniventes” ? Na trama o menino é negro e foi o primeiro a entrar em uma “escola de brancos", haveria aí um interesse da mãe em que seu filho fosse aceito, custe o que custasse?!
Aliás, o filme só nos deixa com dúvidas. A outra é sobre o discurso do padre que trocado em miúdos quase afirma que é um “sentimento maior” o que tem pelo jovem mancebo. A noviça (Amy Adams), professora confusa, passa o tempo todo se questionando se é ou não verdade, mas a madre e diretora da escola (Meryl Streep) afirma veemente que o padre alicia meninos, para no final cair em desespero e falar, aos prantos, que tem dúvidas.
O que me parece é que o filme foi a tentativa de algum americano protestante mostrar, mais uma vez, o lado podre da Igreja Católica, como se a pedofilia não andasse solta por aí, nas mais diversas instituições, incluindo as próprias famílias. Principalmente onde poder e admiração envolvem tutor e tutelado.
Na dúvida não veja o filme, escolha outro que será melhor.
O que vale a pena no filme?
A visão sobre a reforma católica dos anos 60 e a liderança feminina em um mundo machista da época.



Por: Mabel Antunes
Fotos: divulgação

terça-feira, 21 de julho de 2009

MULHER QUE LÊ

Um casal sai de férias para uma reserva ambiental. O homem gosta de pescar e a mulher gosta de ler. Uma manhã, o marido volta da pesca e resolve tirar uma soneca.

Apesar de não conhecer bem o lago, a mulher decide pegar o barco do marido e ler no lago.
Ela navega um pouco, ancora, e continua lendo seu livro.

Neste momento chega um guardião do parque em seu barco, pára ao lado da mulher e fala:
- Bom dia, madame.O que está fazendo?

- Lendo um livro - responde, pensando:(- Será que não é óbvio?)

- A senhora está numa área restrita em que a pesca é proibida - informa..

- Sinto muito, mas não estou pescando, estou lendo.

- Sim, mas com todo o equipamento de pesca.
Pelo que sei, a senhora pode começar a qualquer momento.
Se não sair daí imediatamente, terei de multá-la e processá-la.

- Se o senhor fizer isso, terei que acusá-lo de assédio sexual.

- Mas eu nem sequer a toquei! - diz o guardião.

- É verdade, mas o senhor tem todo o equipamento. Pelo que sei, pode começar a qualquer momento.

Tenha um bom dia madame, diz ele, e vai embora.

MORAL DA HISTÓRIA:
NUNCA DISCUTA COM UMA MULHER QUE LÊ.

CERTAMENTE ELA PENSA!

sábado, 4 de julho de 2009

NO CUSPE DO POETA

Mulheres Conteúdo também tem sentimento. Vez por outra deixaremos aqui nossos contos ou poesias. Deixei a vergonha de lado e resolvi começar a postar com uma das minhas: "No cuspe do Poeta". Seja o que Deus quiser...


No Cuspe do Poeta

Parecia que era tarde,
À tarde no pôr-do-sol,
De tarde, nunca à noite,
Num tempo de temporal,
De tempestades, de vendaval,
De impetuosidades, de experimentos.

Do sangue puro e intocado,
Imaculado como pérola em ostra,
Se descobrindo no sentimento,
No cheiro-perfume-ciumento,
Transformava todo o corpo,
Transformava o conteúdo,
Transformava o pensamento.
Aquecia mais que fogo,
Ardia mais do que o vento,
Doía e como doía,
Magoava, feria, marcava,
Imprimia em nossas vidas lembranças
Como estampas de ideais aguerridos,
Cobertos de todas as razões.

E a paixão? Ah, a paixão!
Se esvaia por escadas,
Por escarpas,
Por esquinas,
Novas esquinas nos aguardavam,
Nos recebiam em seus braços.
Nossas esquinas!
Quantas esquinas!
Outras esquinas.

As esquinas nos adotaram e descortinaram o desconhecido
Um imenso e descomunal,
Imundo, perverso,
Avesso, sedutor e sedento mundo.
Doido para consumir nossas fantasias,
Nossos sonhos e apostas ingênuas.

E assim seguindo a deglutir cada gota de alforria,
De uma forma,
Ou de outra.

“Há de endurecer, mas sem perder a ternura...”.
“Porque ainda somos os mesmos...”.

Será?
Nous serons,
Nós somos ou estamos,
Sim,
Agora,
Corroídos, sovados, castigados demais,
Talvez,
Para encontrarmos a essência que deixamos esvair por nossos poros anos a fio.
Muitas vezes derramada no chão infértil,
Outras vezes frutificada numa existência concreta,
Para escrever e gravar nossas histórias diversas,
Adversas,
Tão distantes e tão dispersas.

Mas no finito do leito,
Lá na foz,
O rio doce se faz água forte e alcança o mar,
Salgado, revolto, arredio.

Lembra à tarde que já é noite,
O sol se furta no horizonte,
Riscando o oceano e se apagando como cinza de cigarro
No cuspe do poeta.

Por: Mabel Antunes
crédito da foto: Mabel Antunes