terça-feira, 13 de abril de 2010

UM RIO DE LÁGRIMAS

Texto: Lucyana Mesquita

As fortes chuvas começaram na noite de segunda-feira e rapidamente a cidade do Rio se transformou num caos geral. Carros e motos foram engolidos por buracos ou levados pela correnteza das ruas alagadas. As pessoas tentaram, em vão, voltar pra suas casas. Bairros ficaram ilhados e sem energia elétrica.


A situação foi tão crítica que as autoridades pediram que a população ficasse em casa na terça-feira. As aulas foram suspensas, o comércio ficou fechado o dia inteiro. A sensação de quem passava pelo Centro do Rio era de uma cidade fantasma. Deslizamentos de terra interditaram as principais vias de acesso. Os ventos fortes também prejudicaram quem tentava chegar à cidade. A Ponte Rio-Niterói ficou fechada por quase três horas. Aviões foram impedidos de aterrissar por causa do mau tempo.


Mas o pior de tudo isso foi ver famílias sendo destruídas, pessoas perdendo seus pais, filhos, netos, irmãos e amigos, numa das maiores tragédias já vistas no estado. Como num efeito de mágica, casas desapareciam completamente, num piscar de olhos. E o que se via depois era um cenário de horror: choro, gritos, dor e desespero. Em meio a tudo isso, o instinto de luta pela vida falou mais alto. Antes mesmo da chegada das equipes de resgate, voluntários se arriscavam para encontrar alguém entre os escombros.


A cada pessoa retirada viva dos destroços era uma vitória, e dava mais força, mais garra àqueles que viravam a noite à procura de mais vítimas. A cada corpo encontrado, a sensação de que não somos nada além do que um sopro, mas, que mesmo assim, vale a pena lutar por ele.
Mais uma vez, a população carente foi a maior vítima. Até agora, são mais de 15 mil desabrigados. Em São Gonçalo, as águas chegaram até quase o teto das casas. Niterói foi a cidade mais atingida. E a situação se agravou ainda mais na quarta-feira à noite, quando a comunidade do Bumba, em Viçoso Jardim, foi atingida por uma avalanche, arrastando mais de sessenta casas. Ao revirar os destroços, bombeiros descobriram que a área já foi um aterro sanitário. Um quadro desolador. O prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, decretou estado de calamidade pública e luto oficial de sete dias na cidade. As buscas por possíveis sobreviventes continuam até hoje.
A tragédia não tem rosto: ela atinge a todos nós. Seja através dos noticiários, ou por algum caso próximo. O fato é que ninguém que mora no Rio vai esquecer do que aconteceu. Se foi um recado da natureza, ninguém sabe. O que importa agora é a nossa solidariedade. O que importa agora é lembrar de como o povo do Rio é, mais uma vez um herói. Paisagens magníficas não são nada se compararmos ao que a população do Rio é capaz. E eu tenho certeza de que, com a ajuda de Deus, o povo do Rio de Janeiro vai superar mais esse obstáculo e vai dar a volta por cima.
A foto foi cedida pelo Guia de Niterói - Morro do Beltrão - Santa Rosa - Niterói - RJ

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